terça-feira, 13 de outubro de 2009

Devaneios na Madrugada

A Terra gira em torno do sol a cada doze meses. A cada seis, é a minha cabeça que dá voltas. Ela anda às voltas com ideias mirabolantes – todas com prazo de validade. Ideias que mais se assemelham a sonhos do que a objetivos concretos, e logo são abandonadas, sobrepujadas pelas impossibilidades que as acompanham. Em seguida, nascem em minha mente outras ideias, mais modestas – também com data para expirar – vencidas por outras ainda mais grandiosas e impossíveis.

Assim tem sido a minha vida nos últimos anos. Tenho vivido de planos maus traçados e de sonhos irrealizados. A menina persistente e determinada mal se reconhece na mulher medrosa e covarde, que ao sinal do primeiro obstáculo, desvia-se para outra estrada, e para outra, nunca chegando a lugar algum. Medo e desapontamento é o que tenho causado nos que mais investiram em mim. Se houvessem sabido em que mau negócio eu me converteria, com certeza teriam redirecionado seus fundos a venturas mais afortunadas.

A vida que eu julgava não ter começado já começou sim. Sou eu quem a está deixando de viver. Não... Isso não faz sentido. Nego esta afirmação quanto sinto o ar encher os meus pulmões e o vento frio cortar o meu rosto. Talvez eu não viva para esse mundo. Talvez não me encaixe nos padrões. Talvez a minha vida se passe dentro da minha mente e esse seja o meu universo. Do que preciso para entender que já comecei a viver? O que se exige de mim? O que eu exijo de mim mesma? Por que o que eu tenho não me basta? Por que tenho que dar o próximo passo? Por que não páro de pensar nele? Por que tenho que ser alguém? Por que tenho que ter alguém? Não basta ser eu mesma? E quem sou eu?

Quisera eu calar as vozes exteriores, abafar a voz do meu inconsciente, torná-la inaudível; aquietar minhas inquietudes, dominar os meus medos, apaziguar as minhas ansiedades. Quisera eu ser dona de mim mesma... Mas eu, como todo mundo, não sou dona de nada. Posso viver em mim, mas pertenço ao grupo. O grupo é mais forte do que eu. Não importa para onde eu corra, ele vai estar lá, e a pergunta vai surgir outra vez: e agora?

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Resposta a Gleide

Minha mãe me diz que todo dia entra aqui pra saber se tem algum post novo e nada... Acho que na falta de novos textos ela deve até ter decorado as poucas linhas contidas nessa página. Diz ela que as pessoas ficam perguntando “Quando é que Luciana vai escrever outra vez?” Propaganda ela tem feito, eu sei. (Gleide, a moça da farmácia... que falava do blog... era minha mãe. Tanto entusiasmo, haveria de ser uma mãe! E das mais corujas por sinal!) Pois é, tenho angariado fãs em filas de farmácia e em academias de letras. Agradeço o apoio e o incentivo. Também sou uma fã (gostei muito de Lunaris, Carlos.) (Lunaris. RIBEIRO, Carlos. EPP Publicidade/Banco Capital, 2007.)

Achei interessante o fato de Gleide ter ficado surpresa ao ler as crônicas sobre Chelsea e Liverpool. É... Talvez a Luciana do dia 28 de junho, a olho nu, não tenha muito a ver com a Luciana do dia 28 de abril. (Ai, meu Deus! Três textos e três fãs depois o “eu” virou “a Luciana”...) Você me perguntou por que escrever de futebol. Entendo sua surpresa. Futebol no Brasil é tabu entre as mulheres. As brasileiras, com suas raras exceções, odeiam futebol. É ele que as empurra para baixo na lista de prioridade dos seus maridos, namorados, ficantes e amantes; que faz o jantar esfriar na mesa, e a água na banheira. Galvão Bueno e cia são seus inimigos mortais. Basta que um vozeirão ecoe na sala para que uma cadeira fique vazia na sala de jantar. Eles correm tão rápido para a frente da televisão que o tempo que gastam para percorrer a distância entre uma poltrona e outra seria suficiente para qualificá-los para uma prova de atletismo nas olimpíadas ou quem sabe para quebrar um recorde mundial. E o gol, de quem foi? E o jogo, qual é? Kaká para o Brasil contra a França? Não... Gol de Testinha do Rio Branco contra o Guaratinguetá.

A verdade é que o futebol causa mais ciúme nas mulheres do que uma rival, afinal, 1 par de pernas não é páreo para 22... É ele o vilão dos casamentos e dos relacionamentos em geral. Na rival, pelo menos as mulheres encontram uma aliada contra seu arquinimigo declarado. Contra a tal, há armas. Pode-se lutar. Contra o futebol não. Afinal, a cada ano há mais campeonatos, copas, recopas. Não sobra noite na semana para as mulheres. Se segunda é o dia do baba, ou da pelada, terça é o dia da série B, quarta e quinta, dia de Brasileirão. Folga na sexta? Não... Tem série B de novo. ABC contra Duque de Caxias. Imperdível! Sábado uma nova rodada tem início e Domingo começa tudo outra vez... Sem falar nos incontáveis shows da rodada. Acaba um programa na Band, começa outro no Sportv.

Se não pode com o inimigo, junte-se a ele. Não é esse o ditado popular? Algumas bem que tentam... Sentam juntinho do maridão, até servem a cerveja e o amendoim. Aguentam 15 minutos. Começam a perguntar o que é impedimento... (se for loira, pergunta o que é pênalti). Outras fingem interesse pelas pernas cabeludas dos jogadores. Fingem sim. Primeiro porque os calções não são mais como nos anos 1970, eles cobrem as coxas dos jogadores, não dá pra ver nada! Segundo, alguém já reparou nas belezuras que jogam nos gramados brasileiros? Pois é... (se o futebol for Europeu, desculpa aceita). As mais espertas, como minha mãe, viram bruxa na hora do jogo. Se estiverem de bom humor, torcem a favor; se estiverem com a pá virada... Quantas vezes já vi o Vitória marcar quando minha mãe, entusiasmada, dizia “O Vitória vai fazer um gol, vocês vão ver!” E quantas outras vezes já vi o contrário... “Esse time vai perder... E vocês ficam ai perdendo o tempo de vocês...” E lá se iam 3 pontos...

Falei, falei e ainda não respondi a sua pergunta, Gleide. É mais fácil falar de futebol sim. É menos clichê. Mais leve. Mais divertido. O que é que eu posso dizer a respeito do amor que já não foi dito ou vivido? Mas não é por isso que escolhi falar de futebol. A verdade é que sou amante dos esportes e poucas coisas me emocionam tanto. Poucas coisas me causam arrepios ou trazem lágrimas aos meus olhos como cenas de conquistas e de superação dentro do esporte, qualquer que seja. Nem sei explicar. É algo que me motiva a superar os meus limites também, sejam eles físicos ou intelectuais. Essa paixão vem de dentro de mim e não depende de ninguém; não dá pra tirá-la de mim.

domingo, 28 de junho de 2009

O Fim do Amor

Eu não sei quando comecei a amar. Mentira. Já ia começar a escrever quando me lembrei daquele momento... O instante exato em que percebi que me apaixonara, que eu também era capaz. Quando a gente ama, a gente pensa que é pra sempre. Recordamos o momento com ternura e paixão. Mas nem sempre é pra sempre. E se não for pra sempre, será que era amor? Nem vou entrar nesse detalhe porque as opiniões são diversas e eu não sou nenhuma especialista. Meu conhecimento sobre o tema se resume às novelas mexicanas e à uma breve experiência dolorosa e necessária.

Quero falar, na verdade, sobre o momento em que a gente se dá conta de que acabou, de que não amamos mais. Não me refiro ao amor que é erodido pela convivência, quando as arestas não se aparam, e sim ao amor que sobrevive ao fim de um relacionamento. É difícil saber o que fazer com esse sentimento quando está vivo dentro do peito de um só. Alguns tentam transformá-lo em ódio, outros em amizade. Às vezes é mais fácil odiar a si mesmo e arranjar novos amigos, porque amizade com ex... não creio sê-la possível; não enquanto perdure o sentimento. Fingimos. É o que fazemos. Fingimos para que não nos tomem por ressentidos, rancorosos, rejeitados. Sorrimos quando queremos chorar. Elogiamos quando queremos xingar. Desejamos os mais “sinceros votos de felicidade” quando na verdade esperamos que sigam sofrendo por nós, infelizes e amargurados. Coração partido ou ego ferido? Difícil saber se sofremos pelo amor próprio ou pelo amor do outro.

Como sabemos que acabou? É disso que me proponho a falar. O processo é gradativo, claro. A imagem do fulano, ou da fulana, vai se apagando... Deixamos de vê-los em todos os lugares. O caminhão da UPS passa a ser só mais um veículo na avenida congestionada. Pensamos neles só quando lembramos que passamos o dia todo (ou uma hora que seja) sem pensá-los. As recordações tornam-se quase uma lembrança distante, destacam-se da realidade – um fruto da nossa imaginação. No meu caso, descobri que já não amava quando estava ouvindo uma música no rádio. Cantei sem dor, sem rancor. Não cantava mais pra ele. Não quisera fazer daquelas palavras minhas. Nem lembro o nome da música. As letras perderam o significado. Eu não amo mais. Não foi um dia tão feliz como aquele em que me descobri boba e apaixonada (talvez mais com a idéia do amor do que com o objeto deste), mas foi muito mais libertador. O universo se abriu. Tudo é possível outra vez.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Chelsea x Liverpool

Espetacular. Sensacional. Extraordinário. Esses foram apenas alguns dos adjetivos usados para descrever o jogão da terça-feira, 14 de abril, entre Chelsea e Liverpool. A emoção foi tanta que precisei de quase duas semanas para meu coração desacelerar e, assim, poder voltar a escrever. Quem viu o jogo, sabe do que estou falando.

Depois dos 3 a 1 sofridos pelo Liverpool no jogo anterior era de se esperar que eles viessem para Londres afiados para tentar o que parecia impossível – marcar 3 gols em Stanford Bridge, casa do Chelsea. O placar de 2 a 0, mesmo igualando o placar agregado, não seria o bastante para o Liverpool (lembrem-se que gol fora de casa vale mais, e o Chelsea havia marcado 3); 3 a 1 Liverpool levaria o jogo para a prorrogação e para os pênaltis (caso o placar permanecesse inalterado nos 30 minutos do tempo extra); qualquer placar acima disso, com diferença de dois gols a favor dos Reds tiraria o Chelsea da semifinal.

Eu sou uma pessimista de carteirinha... Sempre penso no pior. Não há vantagem que me pareça boa o bastante, especialmente no futebol, em que tudo é possível. O primeiro tempo começou e o Chelsea simplesmente não entrou em campo. Não me entendam mal... Os uniformes azuis estavam lá, fazendo contraste com a grama verde e o vermelho do Liverpool. Mas fora as camisetas e os calções azuis o Chelsea do primeiro tempo em nada recordava aquele time lutador, agressivo e determinado da quarta-feira, 8 de abril.

A apatia do Chelsea era tão grande que a cada minuto minha carga de energia negativa só fazia aumentar e eu continuava a pensar no pior... Meus temores começaram a se concretizar quando, aos 19 minutos, Fábio Aurélio, em cobrança de falta, abriu o placar. Aos 28 minutos, minha espinha gelou. Xavi Alonso sofreu pênalti e converteu a cobrança – 2 a 0 Liverpool. A partir de então eu só pedia que o Chelsea não levasse o terceiro gol... no primeiro tempo. O final dos 45 minutos foi dramático! Não queiram que eu vá me lembrar de detalhes, afinal, já fazem duas semanas! Só sei que os Reds não marcaram o terceiro por falta de sorte.

O intervalo veio e eu fiquei imóvel, estática, no sofá, imaginando as surpresas que o segundo tempo traria. Só me mexi quando o telefone tocou aos 3 minutos da etapa final. Era minha prima, Marila. O telefone já estava no sofá, ao meu lado, então nem deu trabalho para responder. Nem lembro se ela tava ligando pra dizer um oi ou para perguntar como eu estava, só sei que a ligação deu sorte! Em nove minutos de bate-papo, gritei gol 3 vezes. O primeiro grito foi alarme falso, já os outros dois... Drogba, aos 6 minutos, diminuiu e Alex, aos 12, empatou para o Chelsea. Um pouco mais surda, Marila desligou o telefone.

Aos 31 minutos, com a virada, foi a minha vez de usar o telefone. Feliz, disquei o número de meu pai para comemorar. Mas ainda era cedo. Minutos depois, aos 36 com Lucas e aos 38 com Kuyt, foi a vez do Liverpool virar. Chelsea 3x4 Liverpool. O impossível parecia estar cada vez mais próximo e a minha veia pessimista voltou a pulsar... Liguei para meu pai mais uma vez. “Não é possível”, disse ele. Mas foi ele mesmo quem me ensinou que no futebol tudo é possível. E quando o Liverpool voltou a acreditar, Lampard marcou o gol de empate, aos 44 minutos. Não havia mais tempo para os Reds. O gesto de Drogba que pode ser traduzido como “encerrado” deixou isso bem claro.

Hoje é dia de Barcelona x Chelsea. Será que vão sobrar unhas para contar história?

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Liverpool x Chelsea

Quando acordei esta manhã achei que à noite iria para a cama com dor de cabeça. É que hoje foi dia de Champions League e de Copa do Brasil. Rodada dupla, emoção dobrada. Liverpool x Chelsea; Juventude x Vitória. Esses eram os dois jogos que me interessavam. Sempre fico tensa em jogos de decisão, principalmente tratando-se de Vitória e Chelsea (o Vitória, time do coração; o Chelsea time que recentemente conquistou um espacinho no meu coração rubro-negro).

Desde a sexta-feira, 27 de março (se não me engano), em que foram definidos os confrontos para as quartas de final da Copa dos Campeões da Europa, a UEFA Champions League, eu já lamentava: “Que azar do Chelsea! Logo o Liverpool...” Enquanto os outros ingleses, Machester United e Arsenal, enfrentariam, respectivamente, Porto e Villareal, equipes de menos peso, o meu Chelsea pegaria o Liverpool, que atropelou o Real Madrid nas oitavas de final e que vem em acensão no campeonato inglês.

Eu já estava no clima das quartas de final desde terça-feira. Entre Villareal x Arsenal (1x1) e Manchester United x Porto (2x2), optei pelo segundo jogo. Com a TV ligada nos canais ESPN, torci para o Porto, de azul (e branco), e vibrei com o segundo gol dos portugueses (marcado por um argentino), arrancando a vitória dos pés do Manchester, aos 88 minutos, em pleno Old Trafford. A semana começou bem, mas não diminuiu a tensão reservada para a quarta-feira.

Hoje, às 15:30 tomei meu lugar em frente a tela plana e esperei a bola rolar para o aguardado Liverpool x Chelsea. Aos 6 minutos meus temores se confirmaram. Numa bela jogada do Liverpool, Fernando Torres ficou livre na área do Chelsea e abriu o placar. “Logo no início!” Na minha cabeça eu já antecipava o desastre. “O Chelsea precisa marcar pelo menos um gol.” (Gol na casa do adversário nesse tipo de competição é muito importante). E teve chance. Drogba perdeu uma grande oportunidade na cara do goleiro.

O jogo estava ficando empolgante, o Chelsea jogava bem, criava boas oportunidades e o gol de empate parecia próximo. Eu estava bastante concentrada quando o interfone tocou na cozinha. O telefone até dá pra ignorar (quem tiver alguma coisa importante para dizer vai ligar no celular, nem que seja a cobrar), mas deixar de atender o interfone é mais complicado... pode ter alguém querendo subir e fica chato deixar a pessoa esperando. “É da farmácia!” Gritou alguém da cozinha. “Pergunta se pode subir!” Gritei da sala. Eu já sabia que a resposta seria não.

O toque do interfone já tinha sido o bastante para fazer meu humor mudar. Quando percebi que ainda teria que descer até a portaria então... Com a cara fechada, peguei o cheque na mesa e chamei o elevador, ouvindo minha mãe dizer: “Eu fico aqui torcendo pra você”. Assim que o elevador chegou no P me dei conta de que tinha esquecido a receita médica em casa. Caminhei até à portaria mesmo assim, achando que o motoboy não iria perceber. Ledo engano. “Sem a receita não pode”. Depois de mais um sobe, desce e sobe fui recepcionada por minha mãe, torcedora suplente: “O Chelsea perdeu um bocado de gol, e o outro time quase fez mais um”. E eu tinha perdido todos os lances!

Meu mau humor não duraria muito tempo. Aos 39 minutos eu já estava gritando GOL quando Ivanovic, com uma movimentação surpreendente dentro da área, marcou, de cabeça, o gol de empate. Tudo igual em Anfield. O jogo poderia acabar e eu estaria feliz com o resultado. Mas ainda tinha o segundo tempo. Tudo podia acontecer. O Chelsea voltou com uma energia e uma determinação impressionantes, jogando para frente o tempo todo, como poucas vezes o vi jogar tendo vantagem no placar (tratando-se de competições como essa, 1x1 fora de casa pode ser um resultado vantajoso). Mesmo quando fez o segundo gol (novamente Ibramovic de cabeça) e virou pra cima do Liverpool, perdidinho na partida, os Blues continuaram atacando. Minutos depois marcaram o terceiro, com Drogba, para a minha alegria. Ai tive que ir comemorar com minha mãe e ligar para meu pai para dizer o resultado do jogo. Liverpool 1x3 Chelsea. Terça-feira que vem tem mais.

À noite, pela Copa do Brasil, o Vitória também me surpreendeu, não por ter vencido o Juventude, mas por ter batido o time de Caxias do Sul fora de casa pela primeira vez em jogos oficiais. A partida não foi tão empolgante e não conseguiu prender minha atenção no segundo tempo. Depois do jogaço da tarde, com equipes de primeira linha, seria pedir demais. Comparações à parte, o Vitória jogou com personalidade, foi para cima do Juventude e marcou logo no início, aos 7 minutos, com a total colaboração do goleiro adversário (o goleirão empurra a bola para dentro do gol, após ele mesmo ter espalmado a pelota). No segundo tempo o Juventude empatou de falta e o Vitória fez o segundo, também de falta num golaço de Bida. Juventude 1x2 Vitória. O próximo encontro entre as duas equipes será no Barradão, em Salvador.

Com o Chelsea e o Vitória mais perto da próxima fase, vou dormir sem dor de cabeça. Quem sabe ela não aparece na semana quem vem.